No tempo que a Júlia ficou na UTI, logo após o nascimento, eu tive um motorista que diariamente me levava e trazia do hospital. O nome dele é Antônio, um sujeito adorável. Um dia, vi um pé de nêspera e comentei com ele que amava essa frutinha desde a infância, quando eu costumava comer diretamente da árvore. Alguns dias depois, ao entrar no carro, encontrei um monte de nêsperas que ele colheu especialmente para mim, numa árvore cujos galhos caiam no estacionamento do Einstein. Fiquei comovida. Hoje, foi a primeira vez que a Júlia comeu nêspera. Simplesmente amou. Comeu várias antes e depois do jantar. Quando contei sobre a delicadeza do Antônio, ela perguntou se a gente poderia voltar lá no estacionamento e pegar mais. Respondi que certamente a árvore já foi derrubada por causa das recentes ampliações do hospital. Ela falou então com os olhos brilhando: vamos voltar lá e plantar outra, mamãe?
Enfim, como diz o tíitulo do livro do François Simon, "comer é um sentimento". Alguém duvida?