O frango caipira veio com cabeça e eu fiquei em pânico: como vou degolar esse sujeito? Achei melhor primeiro assá-lo para fazer o serviço depois.

Coloquei-o numa vasilha com cebola, alho, sal, pimenta do reino, saquê, caldo de frango e azeite para descansar e absorver o tempero. Cerca de uma hora. Não tinha muito tempo. Às onze, foi para o forno de onde sairia apenas 2 horas e meia depois para receber a pequena Júlia chegando da escola.

Tive sorte de comprar no supermercado um frango gordo, daqueles que nasceram e viveram num quintal com comida de verdade.

Por cima ficou uma casca crocante. A gordura sob a pele deixou a carne tenra e saborosa, sem depender necessariamente dos temperos. Quando o ingrediente é bom não é preciso quase nada para fazer um banquete.

O frango ficou pronto e eu não consegui cortar a cabeça. Faltou força, sei lá.

Servi assim mesmo, mas temendo que ao ver aquilo a Júlia virasse vegetariana. E não é que ela quis comer a cabeça?

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Reparem na cabeça atrás de uma das asas.

Eu que não deixei, claro.

Em vez disso, ela devorou o pescoço, a sambiqueira, uma asa e uma coxa. Comeu demoradamente com o garfo e as mãos.

O melhor frango que eu fiz na vida. Digo, o melhor frango que comprei na vida. Porque eu não fiz muita coisa, além de assar. O resto foi obra da natureza.

......

P.S.: aqui tem uma história sobre o primeiro encontro ao vivo da Júlia com um frango caipira.

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