Uma das viagens mais incríveis que eu fiz na vida foi para Praga, principalmente porque foi um mergulho num lugar desconhecido com uma língua mais ainda. Eu me deixei levar. E,  de hora em hora, eu sentia algum espanto.

Um deles foi inesquecível, até porque consta no meu diário daquela viagem.

Eu estava num parque, sentada num banco, quando ouvi um ruminar ao meu lado. Jurava que fosse um animal, possivelmente um cavalo. Quando me virei, não havia nenhum bicho, mas apenas um homem comendo um pepino cru com olhar fixo no horizonte.

VINTE ANOS DEPOIS.

Nunca mais voltei para Praga e, durante anos, contei essa história como parte dos meus sentimentos de estranheza naquela cidade louca onde viveu Kafka.

O tempo passou. Casei com um japonês e juntos fizemos uma filha mestiça que adora comer alguns ingredientes diferentes, especialmente um que eu jamais poderia imaginar.

Pepino cru!

Exatamente como aquele homem no parque em Praga.

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Ela considera pepino sobremesa, lanche da tarde e inclusive salada. Vai na geladeira e pega um pepino com a maior naturalidade do mundo. Algumas vezes, chego a esconder para que ela não coma antes das refeições, porque pode estragar o apetite.

Sem contar que pepino não é especialmente nutritivo ou faz bem para alguma coisa em especial, exceto compressas nos olhos, mas isso é para garotas bem mais velhas que a Júlia.

Suspeito que seja alguma coisa que venha do DNA oriental. Porque nenhum parente meu veio da Repúblicha Tcheca.

Ou será que minha filha gostar tanto de pepino é apenas uma praguinha divertida do destino?

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